"Montes de sentidos": Uma abordagem multidimensional às expressões metafóricas
DOI:
https://doi.org/10.26334/2183-9077/rapln13ano2025a8Palavras-chave:
Metáforas conceptuais, processamento metafórico, dimensões subjetivasResumo
No discurso público, se se disser que um gerente está “acima dos seus funcionários” ou se a uma rainha se chamar “sua real alteza” tendemos a entender ambas as expressões como indicadores de posições de poder, desvalorizando o sentido denotativo, que remete para a noção de verticalidade. De igual modo, se um amigo ou familiar nos contactar para confessar um segredo e em seguida afirmar que se sente mais leve, não assumimos que perdeu peso no decurso da conversa. Ao invés, compreendemos que manter um segredo pode muitas vezes provocar a sensação de “peso”. Tanto a produção como a compreensão destas expressões revelam o que George Lakoff e Mark Johnson (1980) denominaram de Metáforas Conceptuais (MC): mecanismos utilizados para transmitir conceitos abstratos através de noções concretas, como o conceito de poder através de uma escala vertical ou o de culpa como um peso. Estes mecanismos, frequentemente refletidos na linguagem quotidiana, afetam a compreensão de vários conceitos, bem como as nossas ações, e o seu estudo tem desencadeado um grande interesse na investigação em diferentes áreas de pesquisa, ainda que subsistam questões-chave por responder, nomeadamente no que diz respeito à classificação de MC. Esta classificação pode permitir perceber de forma mais adequada como as MC são estruturadas, expressas e percebidas, e como afetam o comportamento, bem como garantir um maior controlo estimular em estudos futuros. De facto, aquando da publicação da teoria das MC, Lakoff e Johnson (1980) apresentaram uma divisão entre MC ontológicas, de orientação e estruturais (baseada na utilização das noções concretas que descreviam os conceitos abstratos), que foi posteriormente modificada pelos autores. Adicionalmente, outras teorias procuraram distinguir entre MC primárias e MC complexas, argumentando que as primeiras estariam amplamente enraizadas na experiência corporal e, portanto, seriam universais. No entanto, como foi demonstrado, esta distinção assenta na existência um "corpo humano prototípico", sendo por isso não inclusiva e focada na análise da língua inglesa. Tal discordância na classificação de MC representa uma lacuna na investigação que pode comprometer a credibilidade dos estudos existentes, uma vez que MC de diferentes tipos podem suscitar diferenças no processamento, explicando assim possíveis disparidades em estudos que recorrem a várias MC. Além disso, as teorias que propõe classificações de MC, tanto quanto sabemos, têm incluído apenas uma língua na determinação dos tipos de MC. No entanto, a investigação experimental que utiliza MC como estímulos é frequentemente conduzida em várias línguas, desconsiderando muitas vezes que MC equivalentes em diferentes línguas podem pertencer a categorias distintas. Adicionalmente, e ainda que MC estejam presentes na linguagem quotidiana através de expressões metafóricas (e.g., “estar acima dos funcionários” como representação da MC poder é em cima), os estudos de categorização de MC focam-se essencialmente em recolher avaliações de MC, descurando a inclusão de expressões metafóricas com as quais os participantes estão familiarizados. Assim, este estudo normativo baseia-se no levantamento de expressões metafóricas representativas de múltiplas MC tanto em inglês como em português. Adicionalmente, participantes nativos de ambas as línguas avaliaram estas expressões através de uma escala de Likert em termos de familiaridade, concretude, valência, ativação, corporalidade e transparência, variáveis previamente identificadas como afetando o processamento metafórico. Deste modo, procurou-se contribuir para a investigação existente, propondo uma nova abordagem na qual expressões metafóricas (ilustrativas de várias MC), permitindo assim a criação de estímulos controlados para futura investigação e evitando as abordagens categóricas de tipologias de MC.
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